OBSERVAÇÃO - Ao caminhar pela leitura do
presente texto, o leitor deverá ter presente que ele é parte de artigo publicado pela primeira vez em Educação
e Ludicidade (Ensaios 02) --- Lucicidade: o que é isso?, sob a
organização da Profa. Bernadete Porto --- GEPEL/FACED/UFBA, 2002, páginas
22 a 60, sendo que o texto que se segue está entre as páginas 45 e 55, com uma
ou outra atualização.
Para este tópico, vou servir-me de conhecimentos originários da
Biossíntese, que é uma área de conhecimentos criada por David Boadella, um
psicoterapeuta somático inglês, no decorrer da década de 1970, e vem sendo
permanentemente recriada por ele nesses últimos trinta e mais anos[1].
A Biossíntese não trata de ludicidade. Então, estarei aproveitando alguns de
seus conceitos básicos, fazendo pontes para compreender o significado interno
da vivência de experiências lúdicas.
O ser humano é constituído, embrionariamente, por três camadas,
denominadas germinativas: endoderma, mesoderma e ectoderma[2].
A Biossíntese assume essa realidade como base para estabelecer suas
compreensões a respeita das possibilidades de restauração do equilíbrio
psicobiológico no ser humano.
Em torno do décimo quarto dia após a concepção, as células do novo ser,
que até esse momento eram indiferenciadas, especializam-se, dando forma a essas
três camadas, acima indicadas, o que implica que as células, até esse momento
indiferenciadas, decidem por compor um ou outro conjunto de órgãos
constitutivos do ser humano, relativos a cada uma dessas camadas.
O endoderma dará origem aos órgãos internos moles do tórax e do abdômen,
órgãos aos quais se vinculam nossos sentimentos. O mesoderma constituirá nosso
sistema de sustentação e movimento: o esqueleto, a musculatura, o sistema
circulatório. O ectoderma constituirá o sistema nervoso central e todo o
sistema de comunicação do ser humano com o mundo exterior, ou seja, dá origem
ao sistema nervoso central e a todas as suas ramificações, que se estendem para
todas as partes do corpo, como também para os órgãos dos sentidos, que nos
colocam em comunicação com o mundo externo a nós mesmos.
Essas três camadas germinativas dão origem a três modos de ser de cada
um de nós: sentir, pensar e agir. Sentimento, pensamento e movimento são três
componentes de nosso estar no mundo, à medida que, ao exercitar cada um desses
modos de ser, ao mesmo tempo, estamos exercitando os outros dois.
Esses três conjuntos de órgãos manifestam-se em três partes distintas do
corpo: a cabeça (ectoderma), o tronco e membros por extensão (mesoderma) e o
abdômen (endoderma). E essas partes se ligam entre si por pontes: a cabeça se
liga ao tronco através do pescoço, especialmente pela nuca; a cabeça se liga
com o abdômen via garganta, parte interna do pescoço; e o tronco se liga ao
abdômen através do diafragma. Todavia, nem sempre, ou quase nunca, essas partes
funcionam harmonicamente, no decurso de nossas vidas, fato que também se
expressa através dos nossos desequilíbrios entre o sentir, o pensar e o agir.
A cabeça, quando está “separada” do corpo, através de bloqueios
energéticos na nuca, no ver da Biossíntese, pode ter duas consequências: de um
lado, se a energia se concentrar na cabeça, emerge o modo de pensar em excesso
e rigidez na conduta; se a energia se concentrar no corpo, hiperatividade
descontrolada, na medida em que a ação passa superficialmente pela reflexão,
assim como pelos sentimentos.
A cabeça, quando está “separada” do abdômen, também, pode apresentar
duas consequências opostas: ou “engole” as emoções, deixando-as presas no
abdômen, sem poder expressá-las pelo rosto, ou expressa muita emoção pelo
rosto, sem estabelecer contato com o centro do corpo; então, a emoção pode emergir
como se fosse vomitada para aliviar a pressão interna (são as reações
intempestivas que temos, aqui e acolá, em nosso cotidiano).
Por último, o tronco pode estar “separado” do abdômen pelo diafragma,
cujas consequências opostas podem ser: de um lado, quando a energia se
concentra mais no tronco, a respiração fica quase que imperceptível, o que
conduz a manifestação de quase nenhuma emoção; ou, por outro lado, quando a
energia se concentra mais no abdômen, num processo de estado emocional intenso,
emerge a ansiedade, que não encontra um modo de expressão por um movimento
harmônico. A respiração é ativa, porém, o sistema muscular é pouco ativo[3].
Em nossa vida, o ideal seria crescer com o equilíbrio interno dessas
três camadas e, consequentemente, das três qualidades básicas do ser humano, a
elas relacionadas: sentir, pensar e agir. Nosso crescimento, em parte, se faz
de modo harmônico, mas uma grande parte dele, infelizmente, frente às nossas
experiências existenciais, tem se feito pelo caminho do desequilíbrio entre
essas camadas e essas qualidades.
Esses desequilíbrios, manifestados pelas qualidades opostas acima
indicadas, que são e/ou foram adquiridos no decorrer da própria experiência da
vida de cada um, poderão ser restaurados para novas formas de equilíbrio,
através de atividades psicoterapêutico-educativas ou educativo-psicoterapêuticas,
que restabeleçam o fluxo energético entre as partes componentes do ser humano,
assim como entre as suas qualidades de sentir, pensar e agir.
Para entrar no contato mais profundo consigo mesmo, o ser humano
necessita estar em contato com o visceral, com o sentimento, que,
posteriormente, é compreendido e elaborado no pensamento e atuado ou realizado pelo
movimento.
Estabelecer e/ou restaurar o equilíbrio entre os órgãos originários das
camadas germinativas do ser humano significa, também, restaurar o equilíbrio
entre o sentir, o pensar e o agir. Mas, o contrário também tem sua verdade: a
experiência de restaurar o equilíbrio entre o sentir, o pensar e o agir,
através da transformação de experiências psicológicas e de crenças, também
podem atuar e atuam na reequilibração das camadas biológicas constitutivas do
ser humano.
Usualmente, em nossa sociedade, nós damos pouco lugar aos
sentimentos. Em função de nossa herança iluminista (que trouxe um bem para a
humanidade, mas tem seu limite), queremos aprender e ensinar somente pelo
processo cognitivo e, em função de nosso comprometimento com a produtividade,
buscamos sempre mais e mais atividades. Com isso, nossa experiência de sentir
permanece relegada ao segundo plano; ou ao terceiro, quarto... último plano! Portanto,
nosso caminho predominante tem sido viver no desequilíbrio dos nossos elementos
constitutivos, psíquicos e corporais, ao mesmo tempo.
Que isso tem a ver com atividades, que sejam lúdicas? As atividades
lúdicas, por serem atividades que conduzem a experiências plenas e,
consequentemente, primordiais, a meu ver, possibilitam acesso aos sentimentos
mais profundos, o que por sua vez possibilita o contato com forças criativas e
restauradoras, que existem em nosso ser.
A vivência dessas experiências vagarosamente possibilita a restauração
das pontes entre os componentes do nosso corpo --- endoderma, mesoderma e
ectoderma ---, ou seja, a restauração do equilíbrio entre os componentes
psíquico-corporais do nosso ser.
Na atividade lúdica, o ser humano --- criança, adolescente ou adulto ---
vivencia, ao mesmo tempo, sentir, pensar e agir. Na participação de uma
atividade, que se manifeste lúdica, como temos definido, o ser humano torna-se
pleno, o que implica o contato com e a posse das fontes restauradoras do equilíbrio.
No caso, agir ludicamente, de imediato, conduz para o contato com o
sentimento, que se situa, fisiologicamente, nos remanescentes do endoderma em
nosso corpo, o local do contato com as sensações e sentimentos mais profundos
de cada um de nós, que por sua vez, facilita os movimentos próprios do
ectoderma e do mesoderma, garantindo o pensar e o agir.
Os alquimistas definiam o nosso abdômen como a fornalha, onde tudo se
transforma. É para aí que as atividades lúdicas nos conduzem; para a fornalha dos
nossos sentimentos e das nossas emoções, aos quais serve nosso pensamento e
nossa ação. É nessa fornalha que encontramos as fontes restauradoras da vida, desde
que primordiais, primais, básicas.
Como as atividades lúdicas, desde que vivenciadas, podem ser um suporte
na construção ou na restauração do equilíbrio energético do ser humano?
David Boadella diz que nós seres humanos somos constituídos por
polaridades e a principal de todas as polaridades é a que se refere à dupla
interior e ao exterior. O interior é nossa
Essência, o Âmago do ser nosso, o centro dos anseios, de nossa alma. O exterior
é o nosso corpo, nossa personalidade, é o campo da energia.
O âmago é o Âmago, ele não pode ser manipulado; ele é o que É. Com ele,
nós só podemos manter contato; contato que é curativo, quando ocorre, devido
estar para além de todo pensamento, de todo julgamento. Nossa essência é
curativa porque é divina. A energia, por sua vez, é externa, é a força que nos
permite viver e agir; ela é um potencial, que, quando atualizada em nossas
experiências cotidianas, pode estar ordenada ou desordenada. Ela necessita ser
ordenada para permitir nosso contato com nossa Essência.
Desse modo, a energia, sendo um potencial, podemos construir seu modo de
expressar-se ordenadamente pela aprendizagem e pela educação; caso ela já
esteja construída de alguma forma --- seja ordenada ou desordenadamente ---,
podemos reconstruí-la de forma mais adequada e funcional, tendo em vista nos
possibilitar um suporte para entrarmos em contato com nossa Essência, nosso
Âmago.
Quando ordenamos ou reordenamos nosso campo energético, ele permite um
contato com nossa Essência. E, esse contato, como dissemos, é curativo, à
medida que ele, desde que estabelecido, reverbera para todas as nossas
experiências de vida.
E esse contato com nossa Essência, na maior parte das vezes, será rápido
e fugaz, mas será um contato, e, a partir dele, nossa vida vai se transformando
e tornando-se o que necessita ser.
As atividades lúdicas ordenam ou reordenam o campo de nossa energia e,
por isso, em momentos fugazes ou mais duradouros, nos permitem um contato com
nossa Essência, por menor que seja. Com o tempo e com repetidas experiências
plenas, vamos podendo manter um contato mais permanente com nossa Essência,
vamos sendo capazes de sustentar essa experiência.
Para compreender o que é contato com nossa Essência, transcrevo a
história de vida que se segue. No caso relatado, é preciso ter claro que é uma
experiência a partir de uma doença. O processo físico, na referida circunstância,
permitiram um contato com a Essência do portador da doença; contudo, vale
observar que o contato com a Essência não necessita ser feito pela dor; pode e,
acredito, deve ser através da alegria, da beleza, da experiência plena
propiciada pela vivência de atividades lúdicas no decorrer da vida.
O texto, que se segue, só nos serve para compreender o que é contato com
a Essência, assim como para compreender que estado lúdico (ludicidade) tem a
ver com um estado interno e não com as atividades em si. Vale registrar que o
relato de uma doença não deve induzir-nos ao entendimento (ou à filosofia) de
que, para fazer contato com a Essência de cada um de nós, importa ser pela dor.
O relato só é ilustrativo para compreender que a integridade interna
propicia um bem-estar, um estado lúdico que, na vida adulta, pode-se chegar a
esse estado por variados caminhos, não necessariamente pelo lazer ou o
entretenimento.
Vale a pena ler o relato. Essa história de vida foi relatada por Rachel
Naomi Remen[4], em seu
livro As bênçãos do meu avô: histórias de relacionamento, força e
beleza, Editora Sextante:
Como parte de uma
pesquisa, pedi a setenta e três médicos que classificassem por ordem de importância
uma lista de vinte e um valores: primeiro de acordo com o que era mais importante
em seu trabalho; segundo, na vida pessoal.
A lista incluía
itens como admiração, controle, sabedoria, competência, amor, poder,
solidariedade, alegria, fama, sucesso e bondade. Não recebi duas listas
idênticas. Ao contrário, muitas eram totalmente diferentes.
A bondade, por
exemplo, era o número dois na lista de valores pessoais e número quinze na
lista de valores do trabalho da mesma pessoa. Competência ocupava o primeiro
lugar na lista da vida profissional e ficava em último na vida pessoal do mesmo
médico. Muitos ficaram impressionados ao constatar que viviam de uma maneira
diferente daquela que acreditavam. A tarefa chamou a atenção deles para esse
fato pela primeira vez.
Ao discutir os
resultados, um surpreendente número de médicos afirmou que achava impossível
viver com base nos valores que consideravam pessoalmente importantes. Como
disse um dos entrevistados, "a vida nos faz menores". Porém, é claro,
isso só acontece se você permitir.
Acredito que esse fato se aplica a nós todos. Muitas pessoas sacrificam
diariamente a integridade em nome da conveniência. Inúmeros pacientes com
câncer já me afirmaram que não diziam sempre a verdade por medo de sofrer
rejeição ou alguma forma de perda, pois viviam e trabalhavam no meio de pessoas
cuja visão de vida era diferente da sua. Tornaram-se invisíveis para sobreviver
ou para manter sua posição na sociedade.
Mas a experiência tem me mostrado que quando não vivemos de maneira
coerente com nossos próprios valores, alguma coisa dentro de nós começa a se corroer.
Podemos sobreviver, mas não viveremos plenamente, integralmente.
Talvez a perda da integridade seja a maior de todas as tensões, algo que
nos machuca muito mais do que a competição, a pressão do tempo ou a falta de
respeito. Nossa vitalidade está enraizada em nossa integridade.
Quando não vivemos inteiros, nossa força de vida se divide. Separados de
nossos valores autênticos, nós nos tornamos fracos. Talvez seja por isso que
quando nossa vida é ameaçada por doenças graves e instintivamente começamos a
juntar nossas forças, nossos valores são quase sempre os primeiros a mudar.
É surpreendente observar com que frequência as pessoas deixam de
perceber que seus valores mais profundos são tão únicos quanto suas impressões
digitais. Quando não temos consciência disso sacrificamos determinadas coisas
para obter o que os outros consideram mais importante. Aquilo que abandonamos
para sermos considerados pessoas de sucesso pode acabar sendo muito mais
importante para nós, pessoalmente, do que coisas às quais nos apegamos ou pelas
quais lutamos.
Às vezes é necessário um alarme como o câncer para nos trazer de volta a
nós mesmos. A crise da doença pode nos libertar da vida que criamos e permitir
que iniciemos um retorno à vida que é autenticamente nossa. E aquilo que
descobrimos nesse momento não chega a constituir uma surpresa para nós.
Um de meus pacientes, um executivo diagnosticado com câncer, disse-me um
dia: - Eu sempre soube o que era importante. Apenas não me sentia
no direito de viver de acordo com isso.
Harry era o administrador de uma grande companhia de seguros, quando
descobriu que tinha câncer de cólon. Sendo o primeiro de uma família de
agricultores a frequentar uma faculdade, desde o início ele tinha se tornado um
aluno excepcional. Era conhecido em seu meio como um homem impetuoso,
politicamente esperto e ambicioso, que fazia da carreira a sua própria vida.
Seu câncer fora descoberto bem cedo e o prognóstico era excelente. Os
colegas esperavam que reassumisse o trabalho bem depressa. Entretanto, dois
dias após recomeçar, Harry abandonou seu cargo, surpreendendo a todos. A
empresa imaginou que ele tivesse recebido uma oferta melhor, mas não era isso.
Harry parou de trabalhar durante um ano. Depois comprou um vinhedo e mudou-se
com a família para a propriedade. Nestes últimos cinco anos vem plantando uvas
e fabricando vinho.
- Desde o instante em que acordei daquela cirurgia, Rachel, tive
certeza, sem a menor sombra de dúvida, de que estava vivendo uma vida que não
era minha. Sofri muitas pressões dos meus pais para alcançar o sucesso. Eles
estavam muito orgulhosos por eu ter escapado da dura vida que levavam há tantas
gerações. No início, eu me senti envolvido pelo desafio, querendo muito vencer.
Meu pai era um agricultor, assim como meu avô e meu bisavô. Ele detestava o
trabalho que fazia, mas eu sou diferente. Eu compreendo a terra. Ela é
importante para mim. Conheço este trabalho como conheço a mim mesmo. Sinto que
pertenço a este lugar de uma maneira que jamais senti em qualquer outro.
Nós nos sentamos na varanda de sua casa, admirando o imenso mar verde
formado pelas videiras que dançavam gentilmente ao sabor do vento. Rosas
contornavam a cerca da casa. O mundo dos negócios estava a anos-luz de
distância. Como se pudesse ler meus pensamentos, ele me disse, com um sorriso
nos lábios:
- Meu lema costumava ser: "Faça do meu jeito ou
desapareça". Eu me sinto muito orgulhoso de estar vivendo pessoal e
profissionalmente, de acordo com os meus desejos. Foi difícil enxergar que eu
tinha me vendido de uma maneira tão completa que nem conseguia perceber.
A busca da integridade é um processo contínuo que requer nossa atenção
constante. Um colega médico, descrevendo sua própria busca da autenticidade,
contou-me que vê a vida como se fosse uma orquestra. Lutar por sua integridade
o faz lembrar do momento em que, antes do concerto, o maestro pede ao oboísta
que toque um lá. No início ouve-se um barulho caótico, causado pelos músicos
que tentam harmonizar seus instrumentos a partir daquela nota. Porém, à medida
que cada um deles se aproxima do tom, o barulho diminui e, quando finalmente
tocam juntos, há um momento de paz, um sentimento de volta ao lar.
- É assim que eu sinto - ele me disse - Estou sempre
afinando a minha orquestra. Em algum lugar dentro de mim existe um som que é só
meu e eu luto todos os dias para ouvi-lo e para afinar minha vida por ele.
Algumas vezes, as pessoas e as situações me ajudam a ouvir minha nota com maior
clareza. Outras vezes, elas dificultam a minha audição. Depende muito do meu
compromisso em querer ouvir e da minha intenção de manter-me coerente com essa
nota interior. Somente quando estou harmonizado com ela é que posso tocar a
música misteriosa e sagrada da vida, sem corrompê-la com minha própria
dissonância, minha própria amargura, meus ressentimentos e temores. Quer
estejamos ouvindo ou não, no fundo de nossos corações a nossa integridade
canta. É uma nota que só nossos ouvidos conseguem perceber. Algum dia, quando a
vida nos deixar prontos para ouvi-la, ela vai nos ajudar a encontrar nosso
caminho de volta para casa.
O contato desse homem com sua integridade ocorreu dessa forma. Com
outros certamente ocorrerá por outros caminhos. Ele poderá acontecer e
acontecerá sempre e durante toda nossa vida, nos momentos em que nossa energia
esteja ordenada ou reordenada, para permitir esse contato, que pode ser fugaz,
rápido, como dissemos acima, mas contato. E, é isso que é importante.
Sobre a experiência da dor, que também pode nos estimular a entrar em
contato com nossa Essência, talvez, pudéssemos dizer assim: a vida nos diz que,
pela ludicidade, podemos estabelecer esse contato, mas, em função de nossa
biografia, seguimos caminhos que nos levaram à dor e ela pode nos lembrar para
retornar ao nosso caminho essencial de vida, que se expressa pela alegria de
viver. Contudo, vale nos pergunta: “Porque esperar por esse impasse na vida?”
Talvez, o melhor caminho deva ser pelas atividades que nos trazem plenitude e
alegria, como ocorreu, ao final, com o personagem do relato acima.
Encerrando esse texto, novamente retornamos ao nosso conceito de
ludicidade como oportunidade de experiência plena interna. A experiência
relatada nos lembra que quem terá que fazer o percurso da experiência lúdica,
para que ela seja plena, é o próprio sujeito da ação. Ninguém mais.
Objetivamente, poderemos ter muitas descritivas e análises das
atividades lúdicas, que são profundamente importantes para nossa compreensão
das coisas, mas, do meu ponto de vista, só o sujeito, enquanto vivente, poderá
experimentar a ludicidade como experiência plena em seus atos; e como essa
experiência pode nos tornar criadores e recriadores de nossa vida, de uma
maneira mais saudável.
Poderíamos continuar nos servindo de múltiplos outros estudos e relatos
para compreender o significado e o uso das atividades lúdicas na vida humana e
na educação. Mas, por enquanto, fiquemos por aqui.
[1] O presente texto foi elaborado no
final dos anos 1990. Hoje, ano de 2020, David Boadella nos deixou, tendo falecido
recentemente.
[2] Neste tópico, estarei me servindo
bastante dos estudos de David Boadella, no seu livro Correntes da Vida,
já citado anteriormente.
[3] Para uma melhor compreensão dessa temática, pode-se
ver, também, com muito proveito, o livro Anatomia Emocional, da
autoria de Stanley Keleman, S.P., Summus Editorial.
[4] Importa saber que Rachel Naomi Remen é médica, vive
nos Estados Unidos e escreveu o livro todo usando a primeira pessoa, desde, nos
seus diversos capítulos, relata experiências pessoais. Vale ainda sinalizar que
modifiquei, aqui e acolá, a paragrafação do texto, acreditando que facilita sua
leitura e compreensão.
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