sábado, 12 de setembro de 2020

8 LUDOPEDAGOGIA: PROGRAMA DE ESTUDOS


Observação – As indicações bibliográficas que se seguem se encontram em texto publicado Cadernos de Pesquisa do Núcleo de Filosofia e História da Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação, FACED/UFBA, vol. 3, n.1, 1999, p.114-131. Para esta postagem, somente a indicação bibliográfica que consta do referido texto.

 

 

Entre os anos de 1998 e 2010, ofereci na Pós-Graduação em Educação, três disciplinas optativas, tratando de questões relativas à ludicidade, reiniciando o ciclo a cada três semestres, sempre praticando aulas teórico-vivenciais:

 

Ludopedagogia I (um semestre de aulas) --- atividades lúdicas e desenvolvimento psicológico do ser humano;

Ludopedagogia II (um semestre de aulas) --- atividades lúdicas, compreensão e integração sociocultural do ser humano;

Ludopedagogia III (um semestre de aulas) --- atividades lúdicas e prática educativa.

 

Deste modo, estariam sendo atendidas as três grandes áreas de formação e atuação do educador, que coloca a ludicidade como seu centro de atenção na prática educativa.

 

Em Ludopedagogia I, estudava-se o desenvolvimento psicológico do ser humano, da infância à maturidade, compreendendo os processos psicossomáticos e sociais dessa longa trajetória, seja sob a ótica individual ou coletiva.

Suporte teórico utilizado para essa disciplina: Sigmund Freud, Melanie Klein, D.W. Winnicott, Bruno Betelheim, André Lapierre, Arminda Aberastury, Ken Wilber, Jéan Piaget, Henri Wallon. Esses autores não eram estudados especificamente como autores isolados, mas todos eles nos forneciam subsídios para a compreensão do ser humano que pode e deve se desenvolver ludicamente.

 

Em Ludopedagogia II, estudamos o ser humano na sua experiência sociocultural. Essa disciplina tinha por objetivo propiciar aos estudantes compreender as atividades lúdicas em suas raízes históricosociais.

Para esse estudo, foram utilizadas as contribuições de autores tais como: John Huizinga, com  sua filosofia da cultura; Carlos Cossio, com sua teoria dos objetos culturais; Marx e Engels, com sua compreensão de que o ser humano se constitui pela ação (trabalho); Philipe Ariès, com seus estudos sobre a história do brinquedo; Walter Benjamin, com suas investigações histórico-sociais sobre o brincar e os brinquedos; Giles Brougère, com seus estudos sociológicos sobre o brincar; Tizuko Morchida Kishimoto, com seus estudos sobre os jogos infantis no Brasil; Câmara Cascudo, com suas investigações socioculturais sobre as atividade folclóricas no Brasil, incluindo aí brinquedos e brincares; Gilberto Freire, com seus estudos sobre nossas heranças étnicas e socioculturais.

 

Em Ludopedagogia III, demos ênfase à prática educativa em si e, então, estudamos o educador, o educando e as atividades lúdicas como atividades educativas.

Para esses estudos, servimo-nos de conhecimentos provenientes de Freud, Wilhelm Reich, David Boadella, Paulo Freire, Stanley Keleman, Jéan Piaget, Jéan Chateau, Henri Wallon e outros, especialmente voltados para o estudo das atividades lúdicas. Servimo-nos também de David Boadella, Stanley Keleman, Jéan Piaget e Henri Wallon que nos ofereceram excelentes estudos sobre o educando e seu processo de desenvolvimento.

 

 

A seguir, indico a bibliografia geral que serviu de base para os estudos, acima especificados.

 

 

Para a disciplina Ludopedagogia I, foi utilizada a bibliografia que se segue. Não fora levada em consideração as diferenças entre os autores, mas sim as semelhanças. Essa disciplina estava centrada em três focos de abordagem do desenvolvimento lúdico: psicoafetivo, psicomotor, cognitivo.

Para a abordagem do aspecto psicoafetivo, foi utilizada a seguinte bilbiografia:

 

ABERASTURY, Arminda, A criança e seus jogos, 2ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas;

________, Psicanálise da criança: teoria e prática, Porto Alegre, Artes Médicas;

BETTELHEIM, Bruno, Uma vida para seu filho: pais bons o bastante, Rio de Janeiro, Ed. Campus;

FREUD, Sigmund, Edição Standart das Obras Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago Editora;

KLEIN, Melanie, Obras Completas de Melanie Klein, Rio de Janeiro, Imago Editora, volumes I, II, III, IV;

RODULFO, Ricardo, O Brincar e o significante: um estudo psicanalítico sobre a constituição precoce, Porto Alegre, Artes Médicas;

WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade, Rio de Janeiro, Imago, 1975.

 

Para o foco do desenvolvimento psicomotor:

 

LAPIERRE, André e AUCOUTURIER, Bernard, Fantasmas corporais e prática psicomotora, São Paulo, Editora Manole;

__________, A simbologia do movimento, Porto Alegre, Artes Médicas;

_________, Bruno: psicomotricidade e terapia, Porto Alegre, Artes Médicas;

LAPIERRE, André, Psicanálise e Análise corporal da relação: semelhanças e diferenças, São Paulo, Editora Lovise;

LEBOULCH, J., Rumo para uma ciência do movimento humano, Porto Alegre, Artes Médicas;

_______, O desenvolvimento psicomotor (0 a 6 anos), Porto Alegre, Artes Médicas;

_______, A educação psicomotora, Porto Alegre, Artes Médicas.

 

Para o foco do desenvolvimento cognitivo:

 

PIAGET, Jéan, A Formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação, 2ª ed. Rio de Janeiro, Zahar;

______, O Juízo Moral na criança, São Paulo, Summus Editorial;

Henri Wallon, As origens do pensamento na criança, São Paulo, Editora Manole;

______, As origens do caráter na criança, São Paulo, DIFEL

 

Obras gerais sobre o brinquedo e o desenvolvimento do ser humano, que serviram de suporte para esse estudo do temaforam:

 

BOMTEMPO, et alli, Psicologia do brinquedo, São Paulo, EDU, São Paulo: Nova Stella;

ELKONIN, D. D., Psicologia do Jogo, São Paulo, Livraria Martins Fontes;

LEBOVICI, S. e DIATKINE, R., Significado e Função do Brinquedo na Criança, 3ª edição, Porto Alegre, Artes Médicas.

 

Para a disciplina Ludopedagogia II, foi utilizada a bibliografia que se segue, com o objetivo de configurar algumas categorias socioculturais que auxiliam a investigar e utilizar os brincares e brinquedos:

 

BROUGÈRE, Gilles, Brinquedo e cultura, São Paulo, Cortez;

_____, Jogo e Educação, Porto Alegre,  Artes Médicas;

COSSIO, Carlos, La teoria egologica del derecho, Buenos Aires, Espasa-Calpe (ver exclusivamente a teoria dos objetos);

Benjamin, W. Magia e técnica, arte e política, São Paulo, Brasiliense;

HUIZINGA, Johan, Homo Ludens, São Paulo, Perspectiva;

OLIVEIRA, Paulo S., O que é brinquedo, São Paulo, Brasiliense, 1º passos.

 

Para história do brinquedo e heranças socioculturais

 

ARIÈS, Philipe, História social da criança e da família, Rio de Janeiro, Editora Guanabara;

AZEVEDO, Fernando de, A cultura brasileira, São Paulo, Cia. Editora Nacional;

CASCUDO, Luís da Câmara, Dicionário de folclore brasileiro, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo;

Benjamin, W, Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação, São Paulo, Summus;

OLIVEEIRA, Paulo S.,  Os melhores jogos do mundo, São Paulo, Ed. Abril;

_____, Brinquedos.  Indústria Cultural, Petrópolis, Vozes;

KISHIMOTO, Tizuko M., O jogo  e a Educação infantil, São Paulo, Pioneira;

____, Jogos Tradicionais Infantis,  Petrópolis, Vozes;

RODRIGUES, Ana Augusta, Rodas, Brincadeiras e Costume, Rio de Janeiro, Funarte - Pró Memória, MEC.

 

Nesse contexto, importa ter presente que as atividades lúdicas do passado devem ser vivenciadas, ressignificando-as no presente, através da experiência simbólica. Assim, por exemplo, a brincadeira dos "Quatro cantinhos" (que tem uma outra versão, com outras qualidades educativas, intitulada de "Coelhinho na toca"), do lado histórico-social, representa a caça primitiva, mas, no presente, trabalha psicossocialmente a possibilidade e a aprendizagem da utilização do espaço e o confronto com os seus perigos. Aprender a administrá-los no nível simbólico é o caminho para aprender a conviver com eles no mundo real. 

 

 

A disciplina Ludopedagogia III centrava-se na educação lúdica, em termos de trabalhar a relação educador-educando, no exercício de uma educação lúdica propriamente dita. Então, aqui, estudávamos: o educador, o educando, as práticas educativas lúdicas.

Para compreender o educador e seu papel nos utilizávamos do seguinte material bibliográfico:

 

BOADELLA, David, Correntes da vida: introdução à Biossíntese, São Paulo, Summus Editorial;

BETELHEIM, Bruno, A fortaleza Vazia, São Paulo, Livraria Martins Fontes; FREIRE, Paulo, Extensão ou comunicação, Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra;

______, Pedagogia do oprimido, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra

OBS - Também os textos originários da psicologia e da psicoterapia nos permitiam fazer pontes para a prática educativa.

 

Para compreender o educando, especialmente, na perspectiva, que integra corpo, emoção (sentimento) e razão, nos utilizamos dos seguintes estudos:

 

BOADELLA, David, Correntes da Vida, op. cit.;

KELEMAN, Stanley, Anatomia emocional, São Paulo, Summus Editorial;

________, Amor e vínculos: uma visão somático-emocional, São Paulo, Summus Editorial;

_______, Padrões de distresse, São Paulo, Summus Editorial;

Wilhelm Reich, A função do orgasmo, São Paulo, Editora Brasiliense;

_______, "A linguagem expressiva da vida", em Análise do Caráter, São Paulo, Liv. Martins Fontes.

 

Para o tema da prática lúdica da educação, utilizamos os textos que se seguem. Neles estão estudos teórico-práticos sobre o uso de atividades lúdicas na prática pedagógica:

 

AZEVEDO, Maria Verônica Rezende de, Jogando e Construindo Matemática, São Paulo, Ed. Unidas;

AGOSTINI, Franco, Juegos de Lógica e Matemáticas, Madri, Ed. Piramide S. A.;

CHATEAU, Jéan, O Jogo e a Criança, São Paulo, Summus;

COSTA, Eneida Elisa Mello, O Jogo com Regras  e a Construção do Pensamento Operatório, São Paulo, IPUSP, 1991 (Tese de Doutorado);

KAMMI, Constance e DEVRIES, Rheta, Jogos em grupo na Educação Infantil: Implicações da teoria de Piaget, São Paulo, Trajetória Cultural, 1991;;

ROSA, Adriana P. e NÍSIO, Josiane di, Atividades lúdicas: sua importância na alfabetização, Curitiba, Juruá Editora;

ROSAMILHA, Nelson. Psicologia do jogo e aprendizagem infantil, São Paulo, Pioneira, 1979;

WAJSKOP, Gisela.  Brincar na pré-escola, São Paulo, Cortez, 1995;

WASSERMAN, Selma, Brincadeiras sérias na Escola Primária, Lisboa, Instituto Piaget.

 

Foram utilizados outros textos, contendo, de maneira predominante, catálogos de jogos e brinquedos:

 

ALLUÉ, Joseph M, O Grande Livro dos Jogos, Belo Horizonte, Editora Leitura, 1999;

ALMEIDA, Theodora Maria Mendes (Coor.) Quem canta seus males espanta, São Paulo, Editora Caramelo;

BRANDÃO, Helina e Froeseler, Maria das Graças, O livro dos jogos e das brincadeiras para todas as idades, Belo Horizonte, Editora Leitura;

BRENELLI, Rosely Palermo, O jogo como espaço para pensar: a construção de noções lógicas e  aritméticas, Campinas, São Paulo, Papirus;

BROICH, Josef, Jogos para crianças: mais de cem brincadeiras com movimento, tensão e ação, São Paulo, Edições Loyola;

HOLZMANN, Maria Eneida F., Jogar é preciso, Jogos espontâneo-criativos para famílias e grupos, Porto Alegre, Artes Médicas;

RODARI, Gianni. Gramática da fantasia. São Paulo: Summus; ROSA, Sanny S. da, Brincar, conhecer, ensinar, São Paulo, Cortez Editora;

TUTTLE, Cheryl Gerson, PAQUETE, Penny. Invente jogos para brincar com seus filhos. 3ª ed. São Paulo: Loyola.

 

Concluindo, espero, com este texto, estar partilhando com os leitores interessados no tema da Ludopedagogia um possível caminho de estudos e aprendizagens, seja no que se refere à investigação, à formação pessoal, como também dos estudantes no seio da educação lúdica.